Ensaio do Sonho

Escrito há um ano atrás, fruto de sonhos pesadelosos que confundiam a mente da autora que vos fala.

E foi assim, simples, como tudo começou: sem explicações, sentimentos a parte, sentimentos e sentimentos sem razão alguma. De uma das partes, ao menos. De defesa baixa, desprevenida, surgiu o novo e desconhecido, resultado de surpresa e admiração por alguém antes tão reservado e misterioso à sua visão.
Decepções, sofrimentos, tudo o que faz parte do não ser correspondido. Inúmeras cartas, inúmeras tentativas, milhares de lágrimas - não conhecestes nenhuma delas, não pessoalmente. E era verdade.
Respostas, a falta delas. Ou nem sempre, mas as ações não justificavam a primeira e única obtida. Nunca justificaram. Os abraços, os toques, o carinho. A paixão transparecendo nos olhos dela, sempre tão brilhantes e sinceros, depois frustrados e lacrimejantes. Sempre.
E então, como sempre, chega a noite: os olhos tentam se fechar - e se fecham. No entanto, a mente não pára e continua imaginando como seria se fosse correspondida, e lhe prega peças. Santa ingenuidade! Pensastes que seriam reais teus sonhos, como te disseram que deveria ser? Te enganas se te deixas enganar tão fácil. Choras e te alivias, mas logo já pensas o mesmo, mais uma vez. Choras e te cansa, ingênua criança, dorme em paz - já é madrugada.
Ah, a doce madrugada! A brisa e os sonhos que galopam nela vêm chegando, penetram as mentes adormecidas e geram a visão de realidade desejada. Ah, como é mágica, não? Não, te enganas mais uma vez.
Vês o rosto que tanto querias ver, o rosto do qual nunca quisestes te despedir, mesmo que há poucas horas atrás. Palavras, aquelas que sempre quiseras proferir, são proferidas, e a coragem que sempre sonharas ter - eis que surge. Então, beijas os lábios que tanto ansiara em beijar um dia e te sentes correspondida. Olhos fechados, felicidade que pulsa em teu peito, desejo aflorado. Mas não - ele te afasta de leve e encara teus olhos, agora oblíquos e confusos. Qual o problema, afinal? Por vezes, queres te deixar levar, te deixar ser usada, assim desfrutas também - mas não. É sempre igual, a inocência que se deixa levar e acorda no meio da noite, em prantos, mágoas e novos sonhos que virão.

0 comentários: