O Tédio

Entedia-me esse tédio que não entendo.
Não entendo esse tédio tedioso que me entedia
E não entende que é tédio e entedia, e faz de propósito.
Ao meu redor, o tédio entedia também outros entediados
E, se alguém entendia alguma coisa, não mais entende entediado.
Não entendo esse tédio que me entedia
E me entedia entendê-lo.

(18.06.2010)

Abstrato

Não posso olhar em teus olhos, mas vejo verdade nos mesmos.
Ouço tua voz, ligação ruim;
Tarde da noite, cedo da manhã,
E me conquistas à medida em que o sol vem.
Vozes baixas, respirações intensas,
Sentimentos aflorados e palpitações.
A luz adentra o meu ser
E o calor, meu peito:
Fecho a janela.
O escuro me acalma e encanta,
O sono me dopa, junto de tuas palavras,
E logo é hora de dizer adeus.
A luz se vai, o escuro já não me acalma;
O fim da noite leva a lua e as estrelas,
Me declaro à solidão.
Tento confortar-me com o escuro, imaginando o teu abraço:
Fecho os olhos.
Sinto tua respiração contra a minha pele.
É sonho?
Com um sorriso e tão fértil imaginação, durmo tranqüila -
E em meus olhos, mesmo fechados, a verdade estampada.

(18.06.2010 - especialmente para João Alberto Lameira de Oliveira)

Ensaio do Sonho

Escrito há um ano atrás, fruto de sonhos pesadelosos que confundiam a mente da autora que vos fala.

E foi assim, simples, como tudo começou: sem explicações, sentimentos a parte, sentimentos e sentimentos sem razão alguma. De uma das partes, ao menos. De defesa baixa, desprevenida, surgiu o novo e desconhecido, resultado de surpresa e admiração por alguém antes tão reservado e misterioso à sua visão.
Decepções, sofrimentos, tudo o que faz parte do não ser correspondido. Inúmeras cartas, inúmeras tentativas, milhares de lágrimas - não conhecestes nenhuma delas, não pessoalmente. E era verdade.
Respostas, a falta delas. Ou nem sempre, mas as ações não justificavam a primeira e única obtida. Nunca justificaram. Os abraços, os toques, o carinho. A paixão transparecendo nos olhos dela, sempre tão brilhantes e sinceros, depois frustrados e lacrimejantes. Sempre.
E então, como sempre, chega a noite: os olhos tentam se fechar - e se fecham. No entanto, a mente não pára e continua imaginando como seria se fosse correspondida, e lhe prega peças. Santa ingenuidade! Pensastes que seriam reais teus sonhos, como te disseram que deveria ser? Te enganas se te deixas enganar tão fácil. Choras e te alivias, mas logo já pensas o mesmo, mais uma vez. Choras e te cansa, ingênua criança, dorme em paz - já é madrugada.
Ah, a doce madrugada! A brisa e os sonhos que galopam nela vêm chegando, penetram as mentes adormecidas e geram a visão de realidade desejada. Ah, como é mágica, não? Não, te enganas mais uma vez.
Vês o rosto que tanto querias ver, o rosto do qual nunca quisestes te despedir, mesmo que há poucas horas atrás. Palavras, aquelas que sempre quiseras proferir, são proferidas, e a coragem que sempre sonharas ter - eis que surge. Então, beijas os lábios que tanto ansiara em beijar um dia e te sentes correspondida. Olhos fechados, felicidade que pulsa em teu peito, desejo aflorado. Mas não - ele te afasta de leve e encara teus olhos, agora oblíquos e confusos. Qual o problema, afinal? Por vezes, queres te deixar levar, te deixar ser usada, assim desfrutas também - mas não. É sempre igual, a inocência que se deixa levar e acorda no meio da noite, em prantos, mágoas e novos sonhos que virão.

Biografia

Preciso enviar uma pequena biografia para ser publicada junto ao meu texto. Talvez ela esteja até meio grande... mas será que vocês podem opinar?
PS: a frase em itálico, também de minha autoria (ui haha), não está inclusa :D


"Dedico o meu sucesso a todos aqueles que passaram pela minha vida: todos me acrescentaram algo. Se desejaram o meu mal, eu paguei-lhes desejando o bem; se desejaram o meu bem, desejei-lhes ainda melhor. Se quiseram, um dia, me derrubar, pago-lhes com sucesso, realização e superioridade: obrigada. Cá estou, vendo-os do palco em minha própria platéia."

Nascida na primavera de 1990 em Campinas/SP, Camila Cristina Crosgnac Fracalossi sempre se viu cercada de sonhos e fantasias, desde a infância, que lhe direcionaram rapidamente à leitura, à escrita e à poesia. Encontrou nelas sua força e apoio para os momentos mais difíceis, juntamente com as pessoas maravilhosas que cruzaram sua vida, incentivando-a a nunca desistir de seus sonhos. Autodidata em alguns quesitos, poeta, cronista, romancista, blogueira e leitora compulsiva, torna-se oficialmente, aos 19 anos, uma autora publicada, realizando um de seus maiores sonhos, dedicando-o especialmente à memória de seus avós falecidos - Cedina & Eno Crosgnac e Darci & Alexandre Fracalossi.

Chove Chuva

Chove Chuva
Por Camila Fracalossi

Dedicado em especial para aquela que só não me deu a luz, mas poderia ser muito mais que uma mãe: "véia", sinto a sua falta há 5 meses como se fossem 5 zilhões de anos e como hei de sentir pelos próximos que virão.
Dedicado, ainda, para Aliane Gonçalves de Aguiar, cujo apoio às artes e aos outros sentidos da vida me faz mais forte a cada dia. A ti, digo: és musa e inspiras a todos ao teu redor. Te amo.

"Chove lá fora e eu não tenho mais você
Quanta vontade de te ver
Saudade é tempestade que fecha o verão
É o último suspiro da paixão"
- Tudo Passa (Marjorie Estiano)

Chove chuva e chora
Chora todas as lágrimas de agora
Chora chuva os teus prantos
Chove e derrama sobre a terra os teus mantos.

Chove chuva e molha
Chora águas e olha
Chora ressentimentos ressequidos
Chove por todos os teus sentidos

Chove chuva e ameniza
Chora por teus prantos, agoniza
Chora tudo e te acalma
Chove chuva e lava a alma.

Aviso

Desculpem a desatualização, mas ano de vestibular é complicado.
Passei pra avisar que a poesia Calafrios, participante do VIII Concurso Literário Nacional da Editora Guemanisse, recebeu menção honrosa e será publicada no próximo ano.

Obrigada pelo apoio hoje e sempre! :D

Monólogo do Amor

Monólogo do Amor
Por Camila Fracalossi
Apresentado no Sarau 2009 Oficina do Estudante

Cá me ponho a contar certas histórias que, por ora, meu coração chora - e tenho dito. São indagações feitas não só pelo meu, mas por nossos corações. Portanto, pelo bem comum, desabafo-as todas e clamo pelo alívio geral.
Sempre ouvi que 'amor é fogo que arde sem se ver'. Se arde, eu não sei - quem sabe se eu sei mesmo o que é o amor? Que seja. Não sei se arde, mas sei que não o vejo ardendo. De qualquer forma, a visão do mesmo se faz possível através de sua personificação. Ah, são tantas as faces do amor! Para alguns, tem a face cruel do demônio encarnado, sinônimo do sofrimento. Para outros, tem a face sensual de Afrodite, que os convida à tentação. Para os outros outros, ainda, essa face é tão angelical e pura como são o céu e as nuvens. O que quero dizer, simplesmente, é que amor é amor e cada um o entende de uma maneira. Há quem diga que a paixão dura apenas dois anos - mas o amor permanece. O que antes podia ser apenas uma atração se torna uma amizade. Ou mais que isso - uma fraternidade apaixonada e desejosa de convívio viciante.
Em base, o amor é a prova maior da química, demonstrando quão inexatos são os dogmas em que acreditamos no nosso dia-a-dia: o amor é SIM capaz de permitir a interação de moléculas apolares com as polares. Talvez água e óleo tenham passado toda sua vida acreditando tão fielmente nessas palavras que nem tenham se dado ao trabalho - nem à oportunidade - de se conhecerem. Isso faz deles apenas água e óleo. Separados. Sozinhos. Mas talvez, se quisessem, se tentassem, se forçassem suas moléculas ao encontro e ao esbarrão, alguma coisa nova surgisse e fizesse mais sentido que o dogma inicial. Porque nem sempre a junção de moléculas de igual polaridade, como água e sal, forma algo tão lindo quanto o mar. É sempre mais fácil pensar na imagem mais bonita, mas ela pode ser completamente intragável - como quando se tenta beber de tal água. Imagens são imagens, sensações são sensações. Combinadas moderadamente, há um equilíbrio. A esse equilíbrio chamamos amor: nem sonho nem realidade, mas sim um sonhar acordado. Como já disse o grande poeta: "é nunca contentar-se de contente", e isso basta. Também ele disse "é um contentamento descontente", em respeito às dores trazidas pelo mesmo - principalmente a dor da incerteza, tão incerta que machuca. Mas deixemos as dores para lá.
Ah, meus amigos, há inúmeros tipos de amor. É como diria nosso grande mestre: "Mas como causar pode nos corações humanos amizades se tão contrário a si é o mesmo amor?". Pergunto-me o mesmo: mas como pode se, por tantas vezes, ambos têm a mesma intensidade? Existe alguém por quem você já chorou e não foi por paixão? Existe, ou existiu, alguém que te decepcionou um dia e não foi por paixão? Se sim, eu pergunto: quão forte foi essa dor? Tão forte quanto a da paixão, eu respondo. Eu senti, todos sentimos, por mais frios que queiramos nos mostrar. Podemos formar nossa concha em calcário e nos esconder dentro dela, mas com certeza nossos fantasmas conseguirão adentrá-la. Com concha ou sem concha - tudo continua igual. Se isolar não é a solução para nenhum tipo de decepção, e tampouco é deixar de amar.
Por fim, deixo-lhes com estas sábias palavras alheias que as minhas apenas trazem a vocês: "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã". Amem. Amem incondicionalmente. Amem suas famílias, amem seus amigos, amem seus amores. Amem suas ações, amem suas vidas. Amem cada dia como se o novo nunca fosse chegar. Amem. Amém.